quarta-feira, 5 de julho de 2017

Por Flávio Viegas Amoreira

Prazer caleidoscópio ler MIA: tratado de sentimentalidades em forma de romance de "proesia" de
O autor e ator Anselmo Vasconcellos
Anselmo Vasconcellos: o que é afinal esse livro mistério de tanta significação para ser pensado? Encetei marcha, tropel por suas páginas de evocação, inventário geracional, painel esmiuçado dum tempo infinitesimais peculiaridades dos protagonistas arquetípicos.

Desdobrado em camadas líricas é sim um romance: essencialmente tranZmoderno: colagem detalhada, dobradura de perceptos, retratos duma psicologia obsessiva e não menos universalizante. Uma obra literária que se "vê" dramaturgia e perspectiva cinematográfica: escritura intertextual, exercício de experimentação sem prejuízo do conteúdo, do roteiro, da contação : fractal de sensações dum cosmopolitismo raro e necessário a literatura brasileira.

Um laboratório de percepções e neolinguagens ainda que sob preciosismo formal: Anselmo torce sobre o magma mesmo do fluxo o panorama visto da ponte que engendra esse entrecho aparentemente linear: o transe opera-se no devir mesmo do argumento. Riqueza de dialogação, imaginosa teia narrativa, Mia, a Holandesa de pés descalços representa, enfatizo, amplo e originalíssimo painel de duas gerações a questionar o sonho, o desbunde e o cinismo, senão mesmo niilismo que desembocou em nosso impasse pós utópico e mesmo entropia.

Quantas imagens me provocam que vão de José Agrippino de Paula a Manuel Puig, passando por um travelling de Antonionni: isso! As referências pedem olhar gozoso e perícia de iniciado no encantamento cultivado... Anselmo traça um zoom, voo panorâmico, teia de rizomas alinhavada por epidérmica poética pela filosofia, semiótica, epistemologia sem descuido dessa trepidante prosa. De Bob Dylan a musica dodecafônica, entre Herman Hesse (leitmotiv) e Ana Cristina Cesar, celtas e orixás, Amsterdam e as lânguidas praias da Tropicália: literatura de inclusão e ressignificação exuberante! Ritmo e aliteração: estrofes encadeadas por um nexo pós linearidade com relevos frásicos quase epigramáticos : "O inesperado é música".

Edição artesanal de Mia, a holandesa de pés descalços

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