domingo, 12 de fevereiro de 2017

Dara Scully - The Caress, 2016

Por Jean Pierre Chauvin


...Sim, eu sei, ou imagino sabê-lo. Dói, dói, dói. Machuca tanto e de nada serve procurar culpados, apontar responsáveis, tampouco questionar o destino. Mas, reconheça, temos o que celebrar. Conhecemo-nos num corredor de Faculdade, minutos antes de acontecer um evento. Afeição e cumplicidade instantâneas. Divertimo-nos a valer. Depois veio o Congresso em Belém e os “sucos da realeza”, por apenas um Real. Crise de riso. Quanto tempo, mesmo? Trinta minutos, por baixo. E ninguém nos entendia. Sempre desconfiei que fosse energia boa em excesso. Rir, neste caso, não é atitude baixa, mas sublime. Mas, repara bem, amiga: há muito mais a celebrar. O que dizer dos passeios pelo Rio de Janeiro, no ano seguinte? Uma beleza! Amigos novos em comum. Visitas a acervos. Até a um monólogo sobre Clarice conseguimos assistir, plus ultra, em companhia de outra amiga! E tem mais: inúmeros encontros acidentais na Biblioteca ou da lanchonete (não por acaso, da mesma faculdade onde nos conhecemos). 

Mudei de assunto intencionalmente. A digressão terá servido de algo? 

Você me diz que não adianta falar. Respondo-lhe que, apesar da pungência, é necessário desbravar o absoluto. Traduzi-lo, ainda que parcialmente, em palavra e lágrima. Façamos assim: sugira o dia, horário e local do próximo café. Passamos outra penca de tempo a trocar impressões. Talvez não a cure; mas ajudam a lidar com o que, agora, é represa. Afianço-lhe, em pleno truísmo, que o amor, sendo água, escorre, passa e vaza. Você bem o sabe; só não consegue des-sentir neste “instante-já” (coisa de Clarice). Mas vai passar e vamos sorrir largamente sobre isso. Também. 

Just in case, estou por aqui por mais umas dúzias de anos. Talvez não equivalha a um buquê de flores, mas tem lá o seu fundamento. Há pouco mundo para muito Eros, não lhe parece? Mas, desafiando Drummond: Não sossegue. Não fique quieta no seu canto. Falar disso também pode ser poesia. Recriar a si mesma será a fase um. O estágio seguinte? Convidar-me para a sua nova morada. Ora, imagine se não! Lá a gente mira o rio, escuta as estrelas feito o Bilac e tem nova síncope, às gargalhadas, enquanto me conta as novas suas e dos outros. Trato feito? Muito bem! Faz-se hora da terapia. Diário de bordo, já! Por gentileza...

São Paulo, 2 de fevereiro de 2017 (15h06)

J.P.C.

Post Scriptum: Note a ambiguidade intencional do verbo que vai no título da missiva!

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