terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Por Flávio Viegas Amoreira

Eliane, Gilberto e Flávio
Que ano esse que abriu-se de espanto com tua partida, mestre! E que outro conceito dar a esses tempos que não perplexidade, meu amigo sempre tão presente! Tuas obras seguem brilhando em todos continentes: em todo canto onde Cultura não tenha sido ceifada em nome da crise econômica: e quanto nós artistas paulistas temos padecido, Gilberto! Imagine que a tão querida Cadeia Velha voltou ser de novo fechada! Teu Festival Musica Nova encantou a todos em Ribeirão Preto tão bem cuidado pela USP: e tua última peça foi merecidamente ovacionada: aquela linda canção a partir de meu poema Saudade, recorda?

Pierre Boulez, seu amigo e maior compositor europeu partiu na mesma semana que tu: combinaram encontro com Stockhausen e nosso Villa Lobos? Assisti pensando tanto em ti o mais novo Woody Allen: era todo ele sobre anos de ouro de Hollywood: e imagina que Olivia de Havilland e Kirk Douglas estão aqui ainda centenários entre nós nesse mundo doido onde a Grã-Bretanha saiu da União Europeia, Trump vergonhosamente foi eleito para suceder nosso estimado Obama e o Ocidente parece cada vez mais aquele dos idos da Guerra da Criméia!

Sigo esboçando tua biografia e espero contar com depoimentos dos teus amigos Augusto de Campos, Wisnick e Caetano Veloso que tanto sentiram tua partida: Ruy Castro abriu janeiro com uma crônica preciosa sobre tua importância para a brasilidade... quando releio o Eça e Borges teus autores preferidos converso mentalmente da mesma forma que imagino tua euforia com cem anos da Revolução Russa que se aproxima e tão presente em tuas memórias entre Moscou, São Petersburgo e Praga.

Agora mesmo leio delicioso livro sobre o Hotel Ritz na tua Plaza Vendôme discorrendo sobre a Resistência Francesa! Com tua amada Eliane reflito melhores caminhos para teu romance ainda inédito Adeus Partidão com sua trajetória de militante entre Neruda e Mário Gruber. Já surgiram dois belos filmes a partir do seu legado: um do artista multimídia Márcio Barreto e outro documentário de Cris Sidoti, além do longa-metragem de Fernanda Almeida Prado em que você mesmo estrelou! Com quem conversar sobre jazz, São Paulo antiga, fitas de espionagem e as telas de Paul Klee? Gilberto Mendes, nós que aqui estamos de ti nunca esquecemos!

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