Por Manoel Herzog (em mais uma da série histórias ideológicas para cooptar crianças)
ERA uma vez um país chamado M. Ficava pra lá das terras dos hiperbóreos e pra cá dos carolíngios, numa estranha pradaria situada não lembro se perto da Macedônia ou de Iperoig, mas isto não importa. O que importa é saber que tal país possuía nome tão curto e estranho (M) porque esta letra era o ponto comum à sua população.
Não se pense que havia uma unidade nacional e a harmonia reinasse em M. Antes muito pelo contrário, aquele país estava dividido entre dois grupos que se odiavam.
Os historiadores diziam que as origens do Estado de M remontavam ao mágico tempo da criação das letras, quando Deus em pessoa veio trazer luz aos homens promovendo seu "letramento". Atentem para esta palavra letramento. Do verbo letrar. O povo de B odeia este verbo, diz que foi invenção do povo de P.
Naquele tempo em que Deus andava entre os homens promovendo o letramento aconteciam coisas divinas. É claro, as coisas de Deus são divinas, dã. Não riam. Era tempo das letras, não da lógica.
Deus explicou que havia letras consoantes e vogais. As consoantes deviam unir com vogais mas como o amor de Deus é livre também se podiam unir vogais com vogais e consoantes com consoantes (mais tarde as pessoas de B inventaram que Deus proibia tais uniões, mas Ele nem se metia nisso). Explicando tais coisas Deus viu que dois povos tinham grande afinidade, os povos de B e de P. E resolveu uni-los e criar uma nação federada. Que nem bósnia-herzegovina, que nem tcheco -Eslováquia ou mesmo Trinidad & Tobago.
O ponto comum entre os povos B e P, o espírito de união nacional por assim dizer, era justamente a letra M. Por isso o nome do país. Deus viu que os P e os B só podiam vir precedidos de M. Não toleravam, como as demais consoantes, a letra N. A letra M era sua constituição, sua única precedência, seu pré-conceito.
Penso que fiz um grande preâmbulo pra contar uma história que é mesmo curtinha. Os povos de M (P & B), unidos pelo preconceito, odiavam-se. Sim, eram uma nação mas se odiavam. Os P diziam que tudo que não presta é B: boi, bancada, bala, bíblia, belomonte, big brother, elencavam de uma forma que até convencia. Já os B em suas razões sustentavam o contrário, que o que não prestava (segundo as convicções deles B) era P: pobre, preto, puta, pederasta, peão, partido político.
Como se pode ver, os de B eram bem mais estúpidos (até este narrador acaba tomando partido). Mas Deus não levou isso em conta. Irritado com a intolerância entre povos irmãos Ele mandou um dilúvio destruir o país de M. E acabou a História, porque a História só parece existir quando um povo odeia o outro.
Fim
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