quinta-feira, 22 de outubro de 2015

"Under an umbrella", de Dmitry Spiros

Por Tânia Casella

Perdi o meu guarda-chuva.
De braço dado com esse homem que me abriga, ignorando-me como a um carrapato, sigo em frente, apequenada.
Perdi o meu guarda-chuva.
E o procuro pelos cômodos, com seus cantos labirínticos, pelos armários confusos, vezes a fio, e em lugares tantos aonde a memória me leva.
Perdi o meu guarda-chuva.
E eu o amava sem saber: manso dentro da bolsa, quando o tempo era de estio. Pingando, fora dela, depois de um dia chuvoso. Dobrado e seco de novo, à espera de nova tormenta.
Perdi o meu guarda-chuva.
E aspiro o perfume desse homem contíguo, deslumbrado, e é como se o seu encanto o projetasse adiante, deixando a todos aquém. Ele parece feliz com o grande guarda-chuva que ostenta.
Perdi o meu guarda-chuva.
Ele era preto por fora e prata por dentro. Côncavo e convexo quando aberto, semelhava-se a uma flor. E ainda tinha um cabo em formato de jota que lhe brotava lá de dentro.
Perdi o meu guarda-chuva.
E agora chove, lenta e intermitentemente, como um choro que se amaina e volta.
E os edifícios, casas, carros, alheios a qualquer mágoa, assistem-nos.
E essa luz diáfana emana de não sei onde.
E o chão de pedras, molhado, obriga um olhar para baixo.
E são pretas as nuvens da chuva grossa que antevejo.
E tudo aqui, neste instante, compõe uma única certeza:
A de que perdi o meu guarda-chuva.   


Sobre a autora

"Sou nascida na cidade de São Paulo e adoro ler e escrever desde quando me recordo no mundo. Sonho em ser escritora, mas ainda não publiquei nada senão no Facebook. Tenho textos guardados na gaveta e neste momento pretendo soltá-los, saindo em busca de uma chance".








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