Por Erre Amaral
Wélcio
de Toledo, anarco-poeta candango, transita da poesia na rua à poesia no livro
como um habilidoso e performático surfista. Elabora e irradia suas tramas
poéticas desde a Casa do Sol, sua psicodélica e woodstockiana residência, no
aprazível Condomínio Verde em Brasília. Afanado agitador cultural e artístico
na capital federal, abriu um breve espaço em sua agenda para um bate-papo
divertido e esclarecedor. Confiram aí!
Erre Amaral: Quando
e como você se descobriu poeta?
Wélcio de Toledo: Acho
que desde adolescente. Só que a poesia sempre associada a outras questões como
roquenroll, cinema e movimentos de constestação típicos da juventude de Brasília.
Eu sempre gostei de escrever e fazia isso, mas sempre meio que escondido. Depois
comecei a mostrar para meus amigos que tocavam e estavam mais do lado do
movimento punk.
Erre: Percebo
em sua poesia um flerte com uma poética marginal que revive o final dos anos 1970
e início dos 1980, há uma consciência disse em seu trabalho?
Wélcio: Sim,
sim. Primeiro era mais uma associação aos movimentos de contracultura e tal,
mas lá pelos dezoito anos comecei a ler muito de movimento beat e poesia
marginal, além de cinema marginal e cinema novo por outro lado.
Erre: É
perceptível também, tanto em Poemas,
visões e outras viagens (2012) e Subversos
(2014), o mesmo flerte com a poesia concreta e visual, como você lida com
essas estratégias poéticas em sua escrita?
Wélcio: Sempre
fui muito imagético. Sou muito ligado às artes visuais e trabalho com imagens
em minhas aulas e pesquisas acadêmicas. E também flerto sim com a poesia
concreta, mesmo tendo alguns senões. Acho legal essa coisa da poesia pegar pela
epiderme, pelo todo, forma e conteúdo. E aí vem o meu senão com alguns
concretistas que colocam a poesia como um código a ser decifrado. Acho que isso
faz perder a sensibilidade na poesia. E aí vem a cilada: trabalhar com imagem e
texto sem ser hermético demais e também sem entrar na obra auto-descritiva.
Erre: Sinto
que sua poesia fala diretamente com o leitor, sem subterfúgios, sem mediação
intelectualizantes, isso se deve à sua experiência com a poesia na rua?
Wélcio: Eu
nunca pensei nisso. A minha ideia sempre foi trabalhar a beleza no texto, mesmo
sabendo que o belo é algo que traz uma subjetividade muito grande. Mas por isso
que digo que eu escrevo antes e sobretudo para mim. Aquilo que me toca, aquilo
que me faz refletir sobre tudo, tanto sobre das minhas experiências teóricas
como na rua.
Erre: O
que você marcaria como diferencial entre a produção de Poemas, visões e outras viagens, lançado em 2012, e Subversos, lançado em 2015?
Wélcio: Eu
vejo uma maturação na forma e no processo de escrita, embora os temas sejam
parecidos. O primeiro livro é um apanhado, quase um inventário, da minha vida
desde a adolescência. Há poemas escritos com 16, 17 anos, o que acho legal porque
captura um "clima" da época. O segundo é mais centrado numa proposta,
num projeto. Foi um livro pensado desde a sua concepção com momento de início e
final. Creio que possa até mesmo ser pensado como uma continuidade, mas com
novos caminhos abertos, novas viagens. Eu diria que Poemas, visões e outras viagens é um ponto de partida e que Subversos já é um caminho aberto a ser
trilhado, ou seja, é meu caminho escolhido e não há desculpas nem culpas.
Erre: escrever
poemas dá prazer ou sofrimento?
Wélcio: Muito
prazer, mas muito trabalho também. Não diria sofrimento no sentido cristão, mas
um desafio que a partir do momento que nos colocamos é uma labuta para chegar
ao resultado que queremos. Mas quando sai o resultado o prazer é muito grande também.
Erre: Sei
que você tem experimentos com a prosa, pretende publicar algo nesse gênero?
Wélcio: É
o meu próximo desafio. Estou trabalhando num livro de contos com um viés
feminino, ou seja, com a mulher no protagonismo das histórias.
Erre: É
mais difícil escrever poema ou prosa?
Wélcio: A
minha certeza hoje é de que sou um poeta. Estou na prosa para ver se me dá o mesmo
prazer e se consigo passar o que penso da mesma maneira que com a poesia. O que
sei é que a prosa me exige mais tempo e que o texto sendo maior me deixa mais
agoniado ainda.
Erre: Fale
um pouco sobre seu trabalho de ocupação poética em Brasília.
Wélcio: A
ideia básica é reunir poetas e artistas diversos para mostrar nosso trabalho e
trocar impressões. Mas também queremos mostrar que lugar de poesia é na rua e
que existem vários espaços ociosos que podem servir para encontro de arte. Ou
seja, é uma proposta de resistência cultural e com ações libertárias sem pedir
concessão para o governo ou patrocínio, tudo na base da autogestão. Também
queremos mostrar que a arte deve estar no cardápio de qualquer cidadão, temos
que abrir os espaços para fazer essa oferta de peito aberto, sem pedagogismo
nem moralismo. Pela minha experiência vejo que as pessoas gostam de arte,
gostam de poesia e que quando abrimos isso para o público em geral a resposta é
sempre positiva.
Wélcio de Toledo. Nascido em Brasília, no ano de 1970. Formado em
História, com mestrado em Educação pela UnB, é professor, poeta e atua em
movimentos sociais e culturais do DF, principalmente relacionados à identidade
cultural, memória social, literatura e artes em geral. Iniciou na militância
cultural nos idos de oitenta, na efervescência do movimento punk, brincando de
elaborar letras para os amigos musicarem e panfletos que questionavam o status
quo da época. Trabalha como professor e consultor de museologia social, além de
organizar saraus e ocupações anarcopoéticas em espaços abertos de Brasília
juntamente com outros amigos poetas. Possui
poemas selecionados no prêmio Carlos Drummond de Andrade do SESC – DF, na
Coletânea Fincapé, do Coletivo de Poetas de Brasília e em diversas outras
coletâneas e revistas literárias. Em 2012 lançou o livro Poemas, Visões e Outras Viagens e, em 2015, Subversos, também de poemas. Faz parte do coletivo anarcultural
ACLAC – Academia Cerratense de Letras e Artes Cosmológicas, que promove intervenções
e ocupações anarcopoéticas.
Ótima entrevista Erre....parabéns para você e para Welcio....Show...
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