segunda-feira, 18 de maio de 2015

Obra de Maxim Grunin


Por Érica Fernanda Justino



ALIANÇA

Odes ecoam pelas frestas do tempo
decantando emoções
solidificando sentimentos.
O impossível repouso dos espíritos
que vagueiam labirintos fechados.
Dando asas as árvores
que raízes fixaram
em chão fértil
regado à lágrimas
desabrochando a desgraça
incerta do que é amar.

***

ABRE-SE A CORTINA DO AVESSO

O postigo do meu corpo de reentrâncias invisíveis
 revela um fremir de fogo que lança centelhas
 como lâminas afiadas.
 Quisera acordar e abrir sua janela,
 já não podia.
 Quisera fazer a boca sorrir com lábios crentes,
 já não podia.
 Quisera a graça do cheiro que o entorno trazia em tarde de crepúsculo
 já não podia.
 E não podia nada mais do queria.
 Pendia o pescoço que em arco
 denunciava-lhe a gênese de seu castigo.
 Como guarnição, abria-lhe o apetite de um riso menor.
 Judiadamente as pontas dos dedos
 resvalam as páginas que exalam
 canela, cravo, lírio, cheiro que refuga inexorável 
 o coração indócil de carne que sonha plangente em quietude.
 E clama.
 Anjo da terra, me leva no teu abraço.

***

ÂNSIAS

O poente resplandece
 sensações, emoções
 dormentes
 que despertam
 como crepitar do sal no fogo
 meu reduto te tornaste
 doce baluarte em dias frios
 nos quentes também
 de solo opimo
 com cheiro irresistível de anonáceas
 ubíquo te faz
 a mim
 só resta
 ser  ancila
 rajá
 que me governa
 que me engole
 edaz
 não em mim
 mas eu em ti
 sem gnoses
 sem lastros ou rastros
 mas purificada
 uma mulher nova
 uma ninfa
 em mar de sargaços
 com noite 
 e clarão de lua.
 Sua.

***

APOCALIPSE 

Quando a lua nascer por trás de uma montanha alta
seu brilho inundará toda a terra
será um brilho ofuscante
muitos terão suas pupilas queimadas
odiarão a claridade
com um despeito intenso
de seu brilho inebriante.
Outros urraram como lobos
 enfeitiçados pelo seu poder.
 Ela espalhará sobre a terra 
 o que lhe for pedido
 nesse único dia de êxtase.
 Eu humildemente lhe rogarei
 coragem.




Sobre a autora


Érica Fernanda Justino, professora, mestranda em Educação, mãe de Ana e Pedro dois anjinhos que caíram na minha casa. Apaixonada por Hilda e Neruda. Na poesia me descubro e encubro, enfim, sou TUDO.


1 comentários:

  1. Sinto nesses poemas a forma da mão de quem escreve.

    Marivaldo.

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