quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Pintura de René Magritte


OS SEXOS DE DEUS

Por Waldo Motta

Tive uma revelação, certa vez, que até hoje não consigo discernir se foi em estado de sono ou vigília. Nela, ouvi uma voz me dizer que “Deus é dois que é um”. Em seguida, olhei para o chão, e nele vi escritas três letras do alfabeto hebraico, YHW, que estão presentes no famigerado nome de Deus, YHWH, onde a letra H aparece duplicada.

Qual a razão de esta letra aparecer duplicada no nome dito sagrado? É o que tentaremos descobrir nos parágrafos seguintes.

Uma das primeiras coisas a serem lembradas é que, em hebraico, palavras com letra H no final costumam ser substantivos femininos. 

É lugar comum entre autores que tratam de temas cabalistas a ideia de que o nome divino de 4 letras simboliza a união do homem ou falo (Y) com a mulher (HWH), responsável pela geração dos seres, isto é, a vida.  Faz sentido, pois o nome de Deus, YHWH, está associado ao verbo ser e estar, e o próprio Deus teria dito de si: eu sou o que é, o que era, o que será. 

Por outro lado, acredito que o nome divino não represente apenas o casal homem e mulher e o sexo convencional, obrigatório, com fins reprodutivos. Penso que inclui também homossexuais, homens e mulheres, erotismo, prazer, alegria. Ademais, a letra H duplicada, pode indicar dois seres iguais (H, H), do mesmo sexo, homossexuais, machos ou fêmeas, ligados e unidos pelo amor.

A letra H vale 5, e simboliza erotismo, prazer, alegria, entre outras coisas.

Em longos anos de prática de numerologia, fiz mapas para vários amigos e amigas homossexuais. E sempre encontrei os números 4e 8 em lugares relevantes nesses mapas. Para mim, o fato de o nome divino ter 4 letras e somar 26, que reduz a 8, diz muito sobre o sexo dos anjos... Anjo tem sexo? Ahahahaha!

Voltemos à revelação. Eu só vi três letras, YHW, faltava uma, a letra final, H, que designa substantivos femininos. Tema para muita pesquisa e conjetura. As letras que vi somam 21.

Escarafunchando o mistério, recorro ao Tarô, cujas 22 cartas principais, arcanos maiores, estão relacionadas às 22 letras do alfabeto hebraico. E a carta 21, chamada o Mundo, simboliza uma totalidade, uma realização plena, uma obra completa, sendo representada por um ser andrógino.

Ora, no próprio nome YHWH é possível encontrar sugestões homoeróticas, masculinas e femininas, conforme o meu método hermenêutico. Considerando o simbolismo das letras, assim podemos ler o nome divino:

Y = divindade
H = homem ou mulher
W = união, ligação, amor
H = homem ou mulher

Em outras palavras: 

Deus, divindade (Y) = homem + mulher (H+H); homem+homem (H+H); mulher+mulher (H+H). 

Ou seja: a união, o amor (W) entre dois iguais (H+H) geram a Divindade (Y). Enfim, o amor!

Ai, que delícia! Tem mais: a letra Y, ou seja, a Divindade, também simboliza o dedo indicador e o falo. E a leitura do nome sagrado pode ser: o falo ou dedo (Y) promove a união, ligação (W) entre H (homem ou mulher) e H (homem ou mulher).

Em abono à conjetura sobre a bissexualidade de H, lembro que esta letra é artigo masculino e feminino, e o número 5, que a representa, é um dos números andróginos, por ser a soma do 2 feminino com o 3 masculino.

Existem muitas leituras para o tetragrama YHWH. Podem me chamar de tendencioso, ou achar que puxo a brasa para a minha sardinha, mas eu prefiro a leitura homoerótica, bissexual, por ser recorrente e coerente com muitos outros estudos cabalísticos que realizei.

Para radicalizar, isto é, ir à raiz da questão, tenho em meus arquivos umas trocentas comprovações, digo, pesquisas bíblicas, cabalísticas, que falam de erotismo e prazer anal, massagem, louvor e veneração ao ânus, como o lugar por excelência de tudo que concerne ao sagrado. 

Tão sério e profundo é o assunto que encontrei em outro nome divino, ELoHYM, e na palavra MaShYaH (Messias), em hebraico, recorrendo aos meus próprios métodos cabalísticos, alusões metafóricas e literais ao lugar sagrado – o buzanfã, o fiofó, o oritimbó, sempre ele.

Espero que estas breves linhas permitam entender por que razão o sagrado foi definido como algo separado, isolado, proibido, intocável -- exceto por eleitos. O sagrado está vinculado ao osso sacro, cóccix, nádegas e ânus – parte dos animais reservada a Deus nos holocaustos. 

Entretanto, algumas passagens bíblicas insinuam que alguns queridinhos de Deus têm o privilégio de tocar o lugar sagrado e até desfrutar de suas delícias paradisíacas, obviamente eróticas.

Harold Bloom declarou que a Cabala encerra uma teologia erótica, um misticismo sexual, mas eu ouso corrigi-lo e dizer que, no fundo, lá no fundo, trata-se de uma teologia homoerótica ou misticismo homossexual.


Uma quase ficcional biografia do autor

Waldo Motta, poeta, ator, numerólogo, fêmeo e macha. Conforme a veneta, a necessidade, torna-se Waldeusa ou Waldeus, Jeowalda ou Jeowaldo, Waldiabo ou Waldiaba, Salwaldor(a) e Malwaldo(a), Waldemônia, Waldelícia e muitos outros e outras. Mais que legião, é um panteão completo, um mundo que podemos chamar de Waldópolis. Publicou, entre outros: Eis o homem (Fcaa/Ufes, 1987), Bundo e outros poemas (Unicamp, 1996), finalista do Jabuti 1997, Poiezen (Ufes/Massao Ohno, 1990), Recanto – poema das sete letras (Ímã, 2002), Transpaixão (Edufes, 2009), indicado para o Vestibular da Ufes, 2010-12. Com o projeto do livro Terra sem mal (Editora Patuá, 2015), sob indicação do Instituto Goethe-SP, ganhou do Landeshauptstadt München Kulturreferat (Departamento de Cultura de Munique) e Fundação Villa Waldberta, bolsa e estadia de três meses, de novembro 2001 a janeiro 2002, na Alemanha, onde também recitou e falou de poesia na Universidade de Munique. Em seguida, foi writer-in-residence, na Universidade da Califórnia, atuando também na Universidade de Stanford. Esporadicamente, publica seus escritos e poemas no blogue waldomotta.blogspot.com e atua com maior freqüência em sua página no Facebook. Atende solicitações para leituras, performances, palestras, oficinas, análise numerológica e orientação simbólica.

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