Imagem de Teo Adorno
O mais infeliz dos brasileiros não tem cópias.
A mais infeliz das brasileiras também não tem cópias.
São autênticos, se amam,
uma aura de fogo-fátuo abençoa sua união.
De que maneira ser feliz num país de reproduções?
1. Seja o original de muitas cópias
melhores que você.
2. Seja uma das muitas cópias melhoradas
de um original pior que você.
Não somos únicos, mas a felicidade do reflexo
não é o primeiro postulado
da sociedade do espelho?
Autenticidade pra quê?!
As cópias aperfeiçoam o original e sua biografia.
A reprodução tática eleva os clones a patamares
que o original jamais atingirá.
Que felicidade, encontrar no metrô,
no escritório, no restaurante,
no cinema, no parque, no supermercado, no bar
meus muitos eus
melhores que eu.
A aura? Ora, a aura… A autenticidade…
Ainda não dá pra comprar, entende?
Não
dá, amigo!
Na era de sua reprodutibilidade
tácita,
arrebatará
o Nobel o primeiro porra-louca
que conseguir clonar a aura
do
mais infeliz dos brasileiros,
da
mais infeliz das brasileiras.
Sobre o autor
Valerio
Oliveira nasceu no dia 21 de junho (solstício de inverno) de 1958, em
Xanadu, capital de Grande Garabagne.
Durante toda a infância morou a cem metros do fabuloso palácio de verão
de Kubla Khan. É poeta e vagabundo globalizado. Já viveu no subúrbio de Los
Angeles, Buenos Aires, Praga, Madri, Milão, Lisboa, Cairo, Luanda, Cidade do
Cabo, Nova Délhi e de outras dez capitais do Oriente. Gosta de orquídeas, de
Modigliani e de Itamar Assumpção. Jamais foi passivo ou ativo, costuma ser
apenas contemplativo. Não acredita em realismos ou surrealismos, somente no
real e nas suas valiosas expansões. Não coleciona essências nem aparências
naturais, prefere as artificiais. Só acredita em biografias imaginárias. E no
poder transcendente do verso livre.
Principais livros: Todos os presidentes (poemas, 2008) e Teto no piso (poemas, 2006).
0 comentários:
Postar um comentário
Os comentários ao blog serão publicados desde que sejam assinados e não tenham conteúdo ofensivo.