quinta-feira, 4 de dezembro de 2014



Alissia convoca. Nesta sexta-feira (05), às 19h, ela, que já passou pelo inferno e pelo paraíso, salta das páginas do facebook para conversar pessoalmente com um público que anda mais do que curioso por conhecê-la. A moça será apresentada pelo escritor Manoel Herzog neste lançamento de "A Comédia de Alíssia Bloom" (Editora Patuá), que acontece na Estação da Cidadania (Avenida Ana Costa, 340, Campo Grande, Santos).  Promete muito o bate-papo que o escritor Marcelo Ariel  mediará entre Herzog e a escritora Cláudia Marczak, que lança no mesmo dia"A flor da pele".

A convite da Pausa, a escritora Viviane de Almeida postou em palavras todo o universo que Alicia convoca nos leitores. Delicie-se:


Um bloom de feminino (por Viviane de Almeida)

Alissia, alicia.
Alissia, alisa.
Alissia, convoca.
O que é do bloom, floresce.
O que é do três: unifica e é trindade.
O feminino em “A comédia de Alissia Bloom”, de Manoel Herzog, desafia, angustia e distende.
É prazer. Prazer em conhecer, em transcender. Em evoluir do inferno ao paraíso, não se furtando as agruras (ou deleites) do Purgatório.
Afinal, “os céus estão nela, como nela e em todos está o Universo”.
O universo de Alíssia, a aliciadora, é quente.
E frio, em um constante subir e descer da consciência.
Mas no príncípio do seu inferno, a maçã é presente, como a primeira, a original, mas na “Comédia de Alissia Bloom”, o autor é mais explícito: “tive desejo por maçã azeda”.
O feminino tem seus azedumes, e Alissia começa sua saga com o desencarne – a massa que se desprende da matéria. Carlos, seu amor, morre atropelado por um caminhão.
 “Vendem-se sapatos de bebê, nunca usados”, diz Hemingway.
Lembro-me de Alissia desfeita em sangue e o leite sem tempo de criar.
“Selando sua infelicidade no amor com sede de vingança aos homens e ao destino”.
Selado o destino, coração trancado e as chaves jogadas fora.
Alissia é uma mulher romântica, uma alma perfumada de jasmim.
Ou talvez não: “Sou menina sapeca”.
E como neófita, encontra em seu caminho, a figura da anciã, a mulher envelhecida.
O arquétipo da que ensina, é envolvida em baforadas de charuto em um centro de macumba no Bexiga.
Vó Barbarella – a de “dedos nodosos e de unha quebrada”.
Suplicantes os anéis que torneavam cada um dos dedos – como os cantos (escuros) que Alissia percorre com os pés descalços nos calabouços da alma que aos poucos se encarde.
“Vou manda Carlos pro reino dos morto”, decreta Vó Barbarella e Alissia paga com as três moedas.
Alissia quer ser comida. Comida como prato que se põe feito: arroz, fritas, feijão e ovo.
Na trivialidade, o feminino também é.
"Alissia, que saudade, meu amor".
Alissia quer ser amada.
Em tempos em que tudo se enreda, a narrativa traça fios de comunicação fluída e Bloom busca na internet um novo modo de fazer.
Maldição de seu morto marido, prendeu-a para sempre ao nome Carlos.
Alissia e Carlos – nem que a morte os separe.
Nem a terra há de comer.
Carlos é nome cravado no peito e nas teclas do computador.
“Não divido nada, nem com irmã”
Alissia é ciumenta.
E sofre pelo marido ausente.
“Uma vez só, perdido o gosto, a coisa nova
Só faz lembrar de Carlos, e é então que eu choro”
São coisas recorrentes, vão e vêm, pensei”
Tu é um santo bem safado, Santo Antônio”
Da Ilha de Itaparica e da Sicília
Faço mandinga pra ajuda as mulher”
Cresci. Falta de mãe que me orientasse”.
Os homens.”
Sobre mim o fascínio que eu exerço,
Senão eu si apaixono”.
Torrada cracker com doce de amora.”
Bola pra frente, Alissia, porque o Céu
Já se afigura, é uma fraca luzinha”.
De ir pela intuição, que se mesclava
Tanta vez pelo desejo e o palpite,
Ouvisse a sabedoria, hoje estava
Há mais tempo no Céu”.
Vulto de um frade de hábito e capuz.
Falava sem som, não sei como ouvia”.
Santo homem me escolheu?".
Que a senda é longa e muitos os perigos”.
De ser amada tão completamente
Sem ter parceiro era o primeiro dom
Do Paraíso”.
Que no terceiro Céu eu adquiri,
Far-me-ia compreender Sabedoria”.
Alissia vagueia pelos túmulos do cemitério, escolhe um e senta-se. Vejo-a vestida de chita, balançando as pernas em ritmo descompassado, enquanto que as palmas das mãos pressionam com ânsia a superfície fria.
É o feminino que se recolhe, vira menina.
Alissia tem dúvidas e teoriza sobre a vida.
“Voltei pensando que a felicidade e a asma
Alissia sente-se só e quer casar.

“Sozinha e triste, projeto frustrado –
Santo Antônio é homem, não entende o que é do feminino.
Vó Barbarella, além de ser do gênero, é entendida na ancestralidade.
“Pagando, amarro o amor que tu quiser
Alissia deseja a maçã doce.
Assim como vagueava pelas vielas do cemitério – ela - oscila entre o sagrado e o profano.
Mulher.
Ou não.
“Talvez por isso, masculinizada
O “isso” é o comportamento lascivo e promíscuo do Sr. Bloom, senhor seu pai.
“Eu sou Alissia, e na vida não choro”.
Ela é forte.
“Eu fui criada a caviar e toddy”.
Alissia é mimada.
Mas falta. Como heroína romântica, apesar da boca expurgatória de palavras salgadas em saliva afiada. E libertária. (ou seria libertina?).
“Mas sem amor, por isso é que devoro
Uma canibal de saia.
Essencialmente, uma curiosa que experimenta homens de todos os signos do Zodíaco.
“Saí cortando um a um, qual navalha”.
Ressabia-se com a possibilidade da paixão. Estranhamente.
“De Libra que nem eu, que este não lance
Alissia está cansada.
“Nem a alma se alimenta de migalhas.
Alissia é mulher de um homem.
Só.
“Não posso me queixar da vida minha.
Alissia espera e esperta segue a luz.
Em princípio, apanágio da condição feminina, Sra. Bloom é intuitiva, mas não praticante.
“Antes
Alissia (mesmo não sabendo) procura um protetor.
“Clarividência, dentro do olho eu via
Alissia é uma mulher com cabelos revoltosos, desgrenhados, cansada da guerra. Mas por dentro ainda é rosa. Tenuê, flor que se quer abrir. Luta contra os espinhos que foram aparecendo em seu corpo, e busca na pinça a possibilidade de tirar um a um.
É dor. Dor no feminino.
Alissia é insegura.
"Como me viu de lá, do meio do nada”.
Pergunta para Fray Luiz de Atahualpa, “ancião de alma pluriáurea”.
O olhar masculino que convida o feminino, mesmo que seja de um frade translúcido.
Energia vital. Cores fortes.
Alissia é nascimento em potência, assim como o sangue que não se molda em feto, se dilui, ultrapassa as cavidades internas e vê o mundo.
“Como foi então que aquele
Santo homem me escolheu?"
Mulheres gostam de confirmações, e Alissia não é diferente.
“Manoel igual a ti vem, dá-me a mão".
Fray em uma equação matemática soma Alissia Bloom e Manoel Herzog.
O resultado é que a soma das partes é um todo que é masculino e feminino.
“Ninguém consegue caminhar sozinho,
Alissia é temperamental
“O Fray falou que aquela sensação
De ser amada tão completamente
Sem ter parceiro era o primeiro dom
Do Paraíso”.
Alíssia é desapegada
Sua retina se aclara, aumenta, hiperbólica e a luz que parecia tão distante se aproxima em um tempo da hipersubjetividade.
É um clarão!
Alissia é uma aranha que tece sua teia. Uma, duas, três moiras.
“A um patamar de mais filosofia
Alissia é uma anciã.
“Eu purguei pregos, cravos e fuzis”.
E o ciclo do feminino se fecha.
Por sete céus Alissia andou, por sete veús se escondeu e se revela, agora, na tradução de Manoel Herzog.
Alissia, tu és mundo.

1 comentários:

Os comentários ao blog serão publicados desde que sejam assinados e não tenham conteúdo ofensivo.