sexta-feira, 21 de novembro de 2014

ZONA DE LEITURA

Por Manoel Herzog





Ela, depois de longa sessão de palavrinhas erotiquinhas: "Liga pra mim, amor."

Ele, temeroso do extrato do Itaú: "Seu telefone é TIM?"

Ela, acolhedora: "Claro."

Ligou e ficaram horas num goza regoza que não parava. Foram dormir dia claro, tinham começado na novela das sete.

Dia doze a conta da TIM, mil duzentos e oitenta e sete real duma única ligação pra um telefone móvel da Claro. Mas ele ficou feliz, porque ela foi sincera.

Não tendo como, tão apaixonado, e sem créditos, ligar pra esculachá-la, deliberou, como sói acontecer à classe média, explodir sua frustração nos mais humildes. Foi ao proletariado. Sentou no Barão do Café.

O garçom: "Chopinho claro ou escuro, patrão?"

Ele, amigável: "Um black, pra começar."

Findo o cremoso chopp da tulipa curvilínea que parecia um corpo de morena violão, o garçom veio.

O garçom, solícito: "Mais um escuro, doutor?"

Ele, objetivo e confirmativo: "Claro."

O garçom seria sangrado fizesse o que fosse. Voltou com outro chopp escuro.

Ele: "Seu animal filadaputa, não falei que queria claro? Caceta."

E assim, na lógica do capitalismo, a reação em cadeia se foi dando de cima pra baixo, sobrando um tabefe na dona maria do garçom, que por seu turno chutou o beagle adotado, recém egresso do Instituto Royal.

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