segunda-feira, 24 de novembro de 2014



Por Ademir Demarchi

Fazendinha, de Rodrigo Marques (Fortaleza, Cavalo Marinho: 2005)

A fonte imaginária desse livro pensado para leitores infanto-juvenis são as toalhas e panos bordados pela avó e mãe do autor, seguindo uma tradição das bordadeiras que povoam de fantasias e estórias coloridas as fazendinhas, ou seja, os panos e tecidos usados para bordar, em geral de linho. 

Formado por poemas e contos inspirados nos bordados de fazenda, o livro de Rodrigo se destaque pela possibilidade de fabulação permitida por essa ideia. A um “que é isso, vó?” vindo de uma criança que olha para o pano bordado, ele, pela voz imaginosa da avó, se transforma imediatamente em uma fazenda habitada por mangas, pitangas, oitis, abacates doces, sapotis, maçãs, peras, uvas nos cachos, “tudo de jenipapo pro ar”, em meio a pato, gato (de botas), cachorro, besouro azul, passarinho, vaca, onça pintada, sapo, formiga, jabuti, caranguejo (gigante), vagalume (de duas lâmpadas), pavão (misterioso)... todos com estórias que remetem em inspiração a uma tradição forte da literatura brasileira que tem Monteiro Lobato e seu Sítio do Pica Pau Amarelo, Cecília Meireles e Ou isto ou aquilo, Vinícius de Moraes e A Arca de Noé, ou Chico Buarque de Holanda com Os Saltimbancos. [9/11/2014]


Um poema de Fazendinha, de Rodrigo Marques


A FAZENDINHA

Olha quanta fruta!
Manga, pitanga, oiti,
abacate doce, sapoti,
maçã, pêra, uva nos cachos,
tudo de jenipapo pro ar!


E olha quanta cruz!

— A Fazendinha toda é de cruz... (assoprou Maria)

E olha um Besouro Azul!

O Besouro Azul se parece comigo...

Olha lá! Um passarinho
levando palha no bico
que roubou de um chapéu
vai pousando nos fios
e não leva choque.

Vai riscando a fazenda de Maria,
fazenda de pano de linho,
do cachorro Toti e da vaca Mu,
vai fazendo zum onde não passa trem.
Olha lá, no lago!
Tibungo, caiu uma onça pintada!
Olha a minha mão,

tem um “m” de...
            tem um “m” de...
tem um “m” de...

     Quem comeu a palavra “mamão”?
     Foi o Boca ou foi o Fogão!?

Êpa, olha lá
um pato desgovernado!

Cuidado, seu Pato,
com o pote d’água!

      Tum Tum!
              Pa! Pa! To! To!
      Tum Tum!
              Po! Po! Te! Te!


O pato quebrou o pote... o pote quebrou o pato!

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