terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Marcelo Ariel conversa com Daniel Arellano Chávez, da rede de informações alternativa Kaos em Rede, direto de Oaxaca, México
Tradução Alessandro Atanes

Marcelo Ariel: Faça um pequeno resumo da situação em Oaxaca, e na sua opinião, porque existe este desinteresse dos meios de imprensa em denunciar a situação do México?
Daniel Arellano Chávez: Mais que um desinteresse, existe uma franca cumplicidade entre os meios de comunicação comerciais, grandes empresas como Televisa e TV Azteca ligadas a interesses de políticos, empresários e sobretudo as empresas transnacionais, por isso não informam sobre os conflitos que vivem os povos de Oaxaca frente ao avanço das empresas que estão tratando de impor megaprojetos energéticos, tais como mineração, parques eólicos, represas, hidroelétricas, estradas etc.
Manipulam a informação para isolar as comunidades, mentem, caluniam, é verdadeiramente um trabalho muito sujo realizado pelos meios de comunicação comerciais a favor das empresas, há bem poucas exceções de meios que na verdade informem a população.

No Estado de São Paulo, Brasil, mata-se, assassina-se mais do que em todo o país do México, mas aqui, muitos assassinatos de inocentes ficam impunes. Apesar desta situação, a consciência do povo em geral é minima. Pode nos explicar como está o processo de conscientização da população no México e o grau de envolvimento do povo mexicano com a luta politica?
Creio que há um controle dos meios massivos de comunicação muito importante, um controle também do sistema educacional, esse controle permitiu ao governo exercer diferentes políticas contrárias ao bem-estar da população e por causa inclusive desse mesmo as pessoas respaldam aquilo que lhes está afetando, ainda que a desigualdade seja muito grande no México, temos o homem mais rico do mundo, Carlos Slim, enquanto 80 milhões de pessoas vivem na pobreza.
Essa desigualdade é que pouco a pouco torna evidente o quanto é insustentável a maneira em que estamos vivendo. No ano 2000 o governo agrediu universitários; em 2001, camponeses para construir em Atenco, estado mexicano, um aeroporto; em 2006, mineiros, professores; em 2008 camponeses em Morelos; nestes últimos 12 anos agrediu estudantes colegiais, assassinou indígenas, camponeses, defensores dos direitos humanos, jornalistas, ativistas, isto é, uma repressão desmedida frente ao crescimento do descontentamento, a Federação inclusive teve que enviar tropas para sitiar estados inteiros como no caso de Oaxaca em 2006.

Em sua opinião, o que falta para que o México chegue a ser um pais justo? E o que um jovem mexicano pode fazer? Como se dão as organizações de movimentos coletivos?
Para que tenhamos um país justo, é uma pergunta muito extensa e como pessoa não creio poder falar uma resposta que complete um questionamento tão importante, mas se puder dizer que se deve transformar muitas coisas a partir da raiz, creio que a resposta está em cada um dos povos, em cada uma das comunidades e seus problemas reais e nas propostas de solução das pessoas se tivessem a possibilidade de realizar.
A respeito dos jovens, há um abandono institucional muito grande, um vazio realmente bem agudo em muitos dos jovens deste país, sem possibilidades de estudar ou de ter um trabalho digno, há poucos espaços de expressão… É uma situação muito complexa, por um lado a falta de oportunidades e por outro a violência…
Creio que o papel dos jovens neste momento é determinante, na experiência de Oaxaca significou uma força importante, sem estarem isolados mas realmente integrados à sua população, dentro da própria mobilização social.

Há algum tipo de ameaça, perseguição ou violência em relação aos jovens militantes? 
O que existe é uma violência generalizada do aparato do Estado contra toda a população, a denominada “Guerra ao Narcotráfico” que teve início há 6 anos sangrou o país, muitos acreditamos que esta violência é diretamente relacionada às ordens do governo dos Estados Unidos, na qual se criou um clima de violência desmedida, fala-se de mais de 80 mil, senão cerca de 100 mil personas assassinadas, mais de 10 mil desaparecidos, removidos, um panorama de terror, na verdade.
Dentro disso uma repressão brutal contra os povos que resistem, operações de controle da população em que chegaram a intervir tropas de 3.500 integrantes sobre populações de apenas 1.000 habitantes, em especial a Polícia Federal. Nesse contexto, no Norte do país, assassinaram muito jovens só pelo fato de serem isso, jovens, enquanto no sul há um combate aberto contra as populações que exigem seus direitos.

Você acredita que uma participação maior do Brasil, um maior envolvimento das autoridades brasileiras nesta questão, poderia ser de alguma valia? Como você imagina que poderia se dar esta participação do Brasil na luta mexicana? 
Difundindo então esta informação o máximo possível e, no caso, se estiver em suas possibilidades, fazer um ato público de solidariedade.

Para finalizar, fale um pouco sobre sua história de vida e de seu envolvimento com a causa de Oaxaca, de como se deu seu envolvimento com os movimentos e a sua atual luta politica...
Estamos ante uma situação crítica, um ponto em que o conflito social está chegando a um grau muito alto, particularmente em Oaxaca há um ambiente tenso, centenas de projetos avançam sobre nossos territórios, as empresas chegam por causa da terra, da água, do ar, dos minerais, por causa mesmo dos seres humanos como força de trabalho explorável a baixo custo… isso nos põe em uma situação desesperada, mas ao mesmo tempo nos leva a um fortalecimento da resistência nas comunidades a estes projetos, a nos organizar, a ter o coração firme na construção de um mundo diferente, com a profunda convicção de que é possível…

Acompanhe os textos de Daniel Arellano Chávez em sua página em Kaos na Rede.

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