O tema do exílio e do desterro já passou algumas vezes pelo Porto Literário (Duas famílias no exílio e Bolaño em Juiz de Fora, O desterro de Antonio Cisneros), geralmente os deslocamentos políticos, de famílias que fogem de ditaduras. Abaixo, a tradução de cometa, de Galia Gálvez, poeta e fotógrafa peruana, em que o desterro é interior, doméstico, no qual alguém acompanha o cotidiano das crianças de uma família:
em noites de desterro ouço rirem os meninoscorrem a casa antigadispersos seus murmúrios na escadaeles brincam com minha dor
a menorzinha sempre veste vermelhonunca sei se o gesto em sua boca é para rir ou chorararranca os cabelos de sua boneca favoritaesmaga seus olhos nas covas do látex
o menino do meio é azul perfeito e sorrimas sua cara é tímida como quem diz bastafunga um cãozinho adulto que não late e se escondeconstrói aviõezinhos multicoloridos que não voarão
o menino mais velho não é um meninose houvesse uma cor para distingui-lo seria a ausência destase houvesse um som para reconhecê-lo, seria a nulidade, o silênciose houvesse um brinquedo para explicá-lo,este seria um cometa que teve a cauda rompida e se perdeu no vento
nessas noites eles enfiam os pés pela minha janelacaminham furiosos sobre áreas de mim que não pensei terperguntam assustados, todos ao mesmo tempoporém estou cansada, longe, e não tenho respostas
No link da entrevista a seguir, feita a Marcelo Ariel, Galia Gálvez fala de seu trabalho:
http://revistapausa.blogspot.com/2010/09/entrevista-com-fotografa-peruana-galia_22.html
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