sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Alessandro Atanes, para o Porto Literário

O tema do exílio e do desterro já passou algumas vezes pelo Porto Literário (Duas famílias no exílio e Bolaño em Juiz de Fora, O desterro de Antonio Cisneros), geralmente os deslocamentos políticos, de famílias que fogem de ditaduras. Abaixo, a tradução de cometa, de Galia Gálvez, poeta e fotógrafa peruana, em que o desterro é interior, doméstico, no qual alguém acompanha o cotidiano das crianças de uma família:
em noites de desterro ouço rirem os meninos
correm a casa antiga
dispersos seus murmúrios na escada
eles brincam com minha dor 
a menorzinha sempre veste vermelho
nunca sei se o gesto em sua boca é para rir ou chorar
arranca os cabelos de sua boneca favorita
esmaga seus olhos nas covas do látex 
o menino do meio é azul perfeito e sorri
mas sua cara é tímida como quem diz basta
funga um cãozinho  adulto que não late e se esconde
constrói aviõezinhos multicoloridos que não voarão 
o menino mais velho não é um menino
se houvesse uma cor para distingui-lo seria a ausência desta
se houvesse um som para reconhecê-lo, seria a nulidade, o silêncio
se houvesse um brinquedo para explicá-lo,
este seria um cometa que teve a cauda rompida e se perdeu no vento 
nessas noites eles enfiam os pés pela minha janela
caminham furiosos sobre áreas de mim que não pensei ter
perguntam assustados, todos ao mesmo tempo
porém estou cansada, longe, e não tenho respostas

No link da entrevista a seguir, feita a Marcelo Ariel, Galia Gálvez fala de seu trabalho:
http://revistapausa.blogspot.com/2010/09/entrevista-com-fotografa-peruana-galia_22.html 

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