segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Marcelo Ariel
Foto: Lenise Pinheiro


Rosaly Papadopol reverbera vários tons e pulsações de uma intensa música de câmara corporal em Hilda Hilst: O espírito da coisa, espetáculo que está em cartaz no Teatro Bella em São Paulo. Trata-se da corporificação de um discurso poético que procura transfigurar o limite do corpo através da escuta da voz do mundo ou do Anima Mundi que os autores da peça/cartografia sabiamente identificam com o arquétipo do Pai. Toda a obra de H.H. era um diálogo com um afeto permanente que se cristalizou na crisálida da loucura paterna e seu isolamento em um aberto-escuro-prateado na Casa do Sol talvez seja o resultado do fracasso desse diálogo transformado em Opus Lírico.

Rosaly e os encenadores souberam transformar o espaço em uma energia que se alimenta desse Opus para fazer reverberar no espectador os deslimites de um abraço que se interioriza em camadas de um transe kiergegaardiano que em alguns momentos atinge com sutileza o campo humorístico embora sua força maior seja a esfera dos silêncios entre as frases.

Quase todos os signos presentes na obra de H.H. se materializam através do corpo da atriz, através dos objetos em cena,um gravador ligado que tenta captar o que está além dos silêncios (dos mortos? da platéia?) é a extensão de uma carícia que tenta encontrar no invisível, um corpo tangível do próprio Amor incomunicável. Os cães invisíveis que as mãos de Rosaly desenham no espaço são uma presentificação da potência secreta do afeto, uma potência ainda não codificada pela linguagem, os poemas em momentos como esse são convertidos em uma energia dialógica e se tornam signos de uma abertura para o Outro, portas para uma filia que resiste ao fragilíssimo muro do isolamento no Interior.

Muito mais pode ser dito sobre esse espetáculo e voltarei a falar dele, vejam e revejam este Hilda Hilst: O espírito da coisa em cartaz no Teatro Bella que fica na R. Rui Barbosa, 399 - Bela Vista - Centro-São Paulo. Telefone:0xx11 3283-2780.



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