quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Por Flávio Viegas Amoreira
Paulo Von Poser é dos artistas plásticos brasileiros que mais me dizem respeito: poucos refletem com tal maestria o conteúdo pelo continente refazendo o percurso obsedado , transmoderno dos signos na reflexão das suas desdobraduras. Sampa é mais metonímica metrópole do globo: sem topografia, sem mais largo horizonte é capaz de revelar-se em seu todo pela mais recôndita de suas partes ou rizomas fluídos.

É essa Sampa de Von Poser: ângulo preciosíssimo , fugaz mirada dum dirigível ou suíte impessoal dum hotel de luxo. A causa pelo efeito, o conteúdo pelo continente (enfatizo) , o objeto disposto pelo material de que é feito: o instantâneo retido é metáfora de nosso desnorteio.

Impossível não citar Walter Benjamim sobre a obra de arte: "(...) a natureza de que fala à câmara é completamente diversa da que fala aos olhos , mormente porque ela substitui o espaço onde o homem age conscientemente por um outro onde sua ação é inconsciente" . Imerso / emerso, cinético: faz-me lembrar todos ‘perfis’ que retenho de Sampa;- o último impacto foi nesga do Copan apartir dum terraço do "Centro Maria Antonia": se a grande arte nacional é experimentada em Sampa, Von Poser é um dos seus mais intuitivos desbravadores. Muito além do pintor das rosas! Agora é um Benedito Calixto reconstruindo o ‘’Teatro Guarany’’ de Santos com quase 150 anos de carga anímica meticulosamente retocada por esse arquiteto que leciona nas ruas onde a concretude poética é noite / dia edificada e transmutada. Penso em Paulo quando leio ‘’Cidades Invisíveis’’ de Ítalo Calvino e numa frase de Matisse que pressentia esse paulistano universal doce feito a densidade de sua obra: "Não há nada mais difícil para um pintor do que pintar uma rosa, pois antes disso ele precisa esquecer-ser de todas as rosas que já foram pintadas".

Não existe Arte, existem artistas: delineadores de tessituras que ruminam a persistência do desvio e a tenacidade dalguma percepção durável: artista é encantador de evanescências : uma rosa já não é uma rosa desde que Gertrude Stein tenha dito ou Paulo Von Poser magicamente mimetizado. Rosa e caos urbano ainda retêm cosmogonias e a gênese do sujeito enquanto testemunha absurdamente disponível ao absoluto divino: desconheço algo mais frágil que monumentalidade de Sampa: imensidão que se engalfinha pelos cinzentos escaninhos dalgum propósito cotidiano e seu descomeço. Em Sampa nada finda feito o pensado no recomeço. Cidade se descabaçando feito pétala.

Grande Paulo Von Poser!

0 comentários:

Postar um comentário

Os comentários ao blog serão publicados desde que sejam assinados e não tenham conteúdo ofensivo.