quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Flávio Viegas Amoreira escreve sobre o escritor Roberto Piva, que estará em Santos no sábado (16) à tarde na Livraria Realejo.

Praça Benedito Calixto, Sampa: numa clareira onde o transe poético em magma se fazia: dia 26 de julho

Roberto Piva empunhava cálice e a deusa Mnemósine, personificação da ‘Memória’, irmã de Cronos e de Oceanos, mãe de todas as Musas. Onisciente o bardo xamânico evocava a lírica dos primórdios, a genealogia do encantamento, as cosmoagonias em transe continuum... Obsessivo, heterodoxo, nunca me filiei à ‘tchurmas’ literárias: sem ortodoxias, bebi das fonte paranóides de Piva e das galácticas de Haroldo: "gosto de gostar das coisas’’, dizia Warhol. As damas de Sampa olhavam curiosas Aguillar e o mestre Piva : Alta Cultura na praça são happening provocativo à burguesia desavisada: um orgasmo esse de fazer o ‘mix’ entre o poético-litúrgico e o shopping-utilitário: "Uma tarde / é suficiente para ficar louco" assim abre-se Um estrangeiro na legião, reunião do clássico paulistano: uranista-erudito, - meu mestre Roberto Piva brilhava frágil como os fortes do Tão "mostrando-nos um pedaço cru e sangrento de verdade" (Salvador Dali).
Eu vi ‘’Astrakan’’ na Benedito Calixto: ‘’Eu vi uma linda cidade cujo nome esqueci / onde manifestos niilistas distribuindo pensamentos puxam a descarga sobre o mundo’’-  e segui até o termino tresloucado entre o desmanche dum sábado de caloroso inverno ‘’ sem o amor encontrado / provado / sonhado / sem procurar compreender / imaginar’’ ; leio, tresleio, sinto as ‘’Piazzas’’ e seus estômagos ‘’ nascendo / no lindo lugar / de um amável coração / um banco revirado / cheio de silêncio / a tarde / sorrindo de frio / para poucas / cenas de ciúme ou Rimbaud beijando as pessoas / sua máscara lógica / dor irradiando / no ar / sobre o olhar sonâmbulo do anjo que ainda grita’’. Em tempos de literatura broxa, tive momento mágico: fui um anjo de Win Wenders espreitando o arcano bruxo : fiz-me Nietzsche até Santos: ‘’Corre o rio do meu amor para o insuperável?
Como não encontraria um rio enfim o caminho do mar?’’
Ficamos loucos na piazza piviana: ‘’No alto do Viaduto o louco colava pedacinhos de céu na camisa de força destruindo o horizonte a marteladas /  a Morte  é um REFRÃO NO CRÂNIO SEM JANELAS’’. Eu que te buscava Roberto Piva: ‘’ apalpo teu livro onde as estrelas se refletem como numa lagoa.’’  Torno ao Oceano e Roberto Piva faz-me lembrar urubus e garças atômicas. Um meteoro devastador não detêm ímpeto poético: seguirei ‘’Apophis’’ cantando um ode cósmica. A morte é a ficção dos não-iniciados. Oceano-me.

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