quinta-feira, 8 de maio de 2008

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Memórias dum ausente clandestino

‘’Como o detonador de Hiroshima, me sinto, na confusão de antisonhos, assomo de uma poética fluente, desaguadouro comum de mistérios num mister, desejos sem molde. esse poeta que sou eu é um resguardado: cada texto é um apego , forte indizente que reproduz a contenção que se espalha por dentro do que seria sem literatura, foco de retomadas. não te lamento , só a frase que se perde pranteio na estrada carregando vento: não me faltam dons donde buscar acariciamentos substantivos. estive em ebulição sem rigidez dum caminho: queria-te solidário com o que perco dizendo, recostar e soletrando anunciar: olha eu divido esse fardo com Mallarmé: quero te ofertar a ‘penúltima’ antes que se imprima. [ ‘’Je m’enfuis, bizarre, personne condamnée à porter problablement le deuil de l’inespicable Penultième.’’] quero extirpar o ‘demônio da analogia’, não! o poema não terá rigidez de caminhos, será cada frase encitamento, fragmento de uma vastidão que se esconde no capote de bolsos abalonando-se: é o assoprar e jaz um nome. não quero assoprar para quedar-se um testemunho: solto-me em verbetes que imprecisam o enorme glossário assim composto: perpontuando possibilitamentos. Quando escrevo nenhum obstáculo, os coleciono: aceito percalço, o reutilizo: aí digo ser aí algo existente e passa ser unicamente existente o nomeado, mesmo findo com pele de nome. não descobri, não impus, foi escrito quando não sei. como amor pela Virgem uma fraternidade de filhos sem pecados comuns, só os  resgatados e procuro-me em demasia nas nódoas idealizadas. Sem bruteza jamais tem termo absurdo: vou cavocando, arruinado a ferida, jactando-me de buscar o que não é algo ainda. profundo e claro: efeito inconscientemente de sensações, profunda empatia com as formas todas do universo que abalroa, basta é a claridade, espírito absorvente e suscetível quebrando grandiloquências sendo amor e morte experiências diárias. abjuro, maldigo, nunca enredo diabo de analogias: imitar-me é compreensão daquilo que nego verdadeiro, tenciono o reexame, sento diante do real ecólogo de palavras, há bem meio ambiente para as palavras, ecologia dos dizeres. estou em movimento com as coisas: eu e tú que amo, mexemos objetos refeitos em pensamentos. Quando penso a coisa maldigo não ter esquecido seu primeiro modo: detesto modo de ser, ser é aquilo que movimenta e retine na ilusão que faço do olhar. dois tipos de conversão : a violência do entendimento e o luto; estou entre aparência e finitude: um poema é um reencontro com fascínio que possibilita sem preenchimento. Acredito ser arauto desse contrário: o que se escreve me fôra interdito da maneira visível de viver.’’

Flávio Viegas Amoreira

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